O calçado à venda na sua loja provavelmente foi fabricado em um dos principais polos calçadistas brasileiros — nome que se dá às regiões que concentram empresas produtoras, desde que não haja uma dispersão geográfica entre as fábricas de calçados.
De acordo com o Relatório Setorial da Indústria de Calçados do Brasil, publicado em 2021 pela Abicalçados, em 2020 foram identificados 13 polos dispostos em seis Estados do país: Ceará, Paraíba, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Para conhecer cada um deles e a importância para o setor calçadista, continue a leitura deste texto! Antes, entenda o que é um polo calçadista.
O que é um polo calçadista?
Compreende-se por polo “pessoa, ponto, área, instalação ou coisa em torno de que gravita, ou onde ocorre, determinada atividade importante, ou se centra um interesse, um grupo de pessoas etc.; centro”.
Sendo assim, um polo calçadista representa as regiões onde há grande concentração de empresas criadoras deste tipo de produto, em municípios próximos.
Na prática, estados como a Bahia e o Pernambuco possuem uma produção significativa de calçados. Contudo, é notável uma dispersão geográfica dessa produção. Sendo assim, são locais que não são identificados como polos. Considera-se apenas a produção de cada estado como um todo.
Para eleger um polo calçadista, leva-se em consideração três fatores: a contribuição da região à produção nacional; a contribuição da produção do estado para a produção da região; e a dispersão da produção no interior do estado.
Principais polos calçadistas do Brasil
Considerando a definição acima de polo calçadista, abaixo você confere onde estão localizados, no Brasil, os principais deles!
Estados brasileiros onde estão concentrados os maiores polos calçadistas do país. Foto: Reprodução/Relatório Setorial 2021 Indústria de Calçados.
Estado do Ceará
Ao lado do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, o estado do Ceará figura como um dos três maiores produtores de calçados do Brasil, em quantidade de pares, com uma participação de mercado de 26,7%.
Nele, concentra-se quatro polos responsáveis, no total, por 91,7% da produção estadual no ano de 2020: Sobral, Juazeiro do Norte, Horizonte e Fortaleza.
Sobral
A cidade de Sobral foi responsável por quase 70% da produção estadual (aproximadamente 142 milhões de pares), sendo ainda o maior produtor nacional de pares de calçados.
Não por acaso, ela também foi o município que mais empregou na indústria calçadista durante o ano de 2020. Foram mais de 14,2 mil postos de trabalho preenchidos.
Juazeiro do Norte
Em seguida, o polo calçadista cearense que mais produziu calçados em 2020 foi o de Juazeiro do Norte, sendo responsável por 11,7% da produção do estado.
Por lá, a confecção de calçados começou nos anos 1970, mas ganhou ainda mais intensidade em meados de 1990.
Os municípios pertencentes ao polo calçadista de Juazeiro do Norte, além da própria cidade, são Crato, Barbalha, Jardim, Missão Velha, Nova Olinda, Porteiras e Santana do Cariri.
Horizonte
Sendo a 5º cidade que mais empregou na indústria calçadista em 2020, Horizonte também é considerada um polo calçadista. No mesmo ano, ela foi responsável por 6,9% da produção de calçados no estado do Ceará
Fortaleza
Atrás de Sobral, Juazeiro do Norte e Horizonte, Fortaleza comandou 3,6% das das produções de calçados do estado.
A cidade foi sede da primeira indústria da Grendene, em 1990, que hoje também conta com fábricas em Sobral e Crato, sendo uma das maiores produtoras mundiais de calçados voltados para o público feminino, masculino e infantil.
Estado da Paraíba
Em 2020, 109,8 milhões de pares de calçados foram fabricados na Paraíba. O estado foi responsável por 14,4% da produção nacional, apresentando um aumento de 1% em relação a 2019, conforme o relatório setorial da Abicalçados.
O destaque, assim como no Ceará, se deu por conta do perfil de calçado produzido, especialmente os de material de plástico e borracha.
Campina Grande
Na Paraíba, está concentrado o segundo maior polo produtor nacional de pares de calçados: Campina Grande. Ele tem produção estimada em mais de 104 milhões de pares — representando 95,5% da produção do estadual e o 3º município que mais gerou empregos em 2020.
Além de Campina Grande, compõem o polo calçadista as indústrias situadas nas cidades de Alagoa Nova, Araruna, Ingá, Guarabira, Mogeiro e Serra Redonda.
João Pessoa
Outro destaque paraibano é o polo de João Pessoa, que conta com Bayeux, Santa Rita e a própria João Pessoa.
Apesar de uma queda de 1,1% em relação a 2019, as unidades figuram como responsáveis pelos 4,5% restantes da produção calçadista do estado em 2020.
Estado de Minas Gerais
O terceiro estado que mais produz calçados, em quantidade de pares, é Minas Gerais, sendo responsável por 16% da produção nacional. Além disso, em valores (US$), a terra do pão de queijo é o 5º estado que mais exporta calçados.
Nova Serrana
Principal polo de calçados do estado, Nova Serrana tem cerca de 830 indústrias do segmento, o que acarretou em muita geração de empregos — a cidade figura como a 2ª que mais proporcionou oportunidades na indústria calçadista em 2020.
Contudo, o estado de Minas Gerais como um todo segue uma tendência de desconcentração da produção, com isso, o polo de Nova Serrana tem perdido participação, representando 43,8% da produção estadual em 2020, frente a 49,2% em 2019.
O município também busca ser referência. Anualmente, organiza a Feira de Calçados de Nova Serrana (Fenova), que reúne lojistas e empresários do ramo calçadista em 3 dias de evento.
Além de Nova Serrana, as cidades de Araújos, Bom Despacho, Conceição do Pará, Divinópolis, Igaratinga, Leandro Ferreira, Onça de Pitangui, Pará de Minas, Perdigão, Pitangui e São Gonçalo do Pará também fazem parte do polo.
- Feito para você: Vencendo a crise – Como vender calçados no marketplace
Estado de São Paulo
São Paulo é o terceiro maior estado exportador de calçados em valor (US$), sendo o 5º em pares. No total, foram 40,0 milhões de pares produzidos em 2020. O estado apresentou uma queda de 0,8%, se comparado a 2019.
Birigui
Representando 50,6% da produção de calçados paulistas em 2020, o polo de Birigui, no noroeste paulista — cidade famosa pela produção de calçados infantis — apresentou um crescimento de 4,1% em relação a 2019.
Na cidade, são 350 empresas, que geraram 6,9 mil postos de trabalho no mesmo ano.
Além disso, a Capital Brasileira do Calçado Infantil exporta a produção para 40 países. Segundo o Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui (Sinbi), 52% dos calçados do segmento fabricados no Brasil são confeccionados na cidade.
Fazem parte do polo de Birigui as indústrias situadas também em Araçatuba, Bilac, Braúna, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicério, Lins, Lourdes, Macaubal, Mirandópolis, Penápolis, Piacatu, Rubiácea, Santo Antônio do Aracanguá e Santópolis do Aguapeí.
Franca
Outro polo paulista que merece destaque é o de Franca, apesar da queda de 3,4% na produção de calçados em relação a 2019 — anteriormente, ele representava 31,2% da produção do estado, agora detém 27,8% dela.
Contudo, fica a frente do polo de Birigui quando o assunto é empregabilidade. Foram 10,3 mil postos de trabalho apenas em 2020, tornando-se a 4ª cidade que mais gerou empregos na indústria calçadista brasileira.
Além das fábricas, a cidade tem produtores de insumos — solados, adesivos e máquinas — e instituições de ensino técnico e profissionalizante com cursos direcionados para o setor.
Jaú
O motor da economia de Jaú é a fabricação de calçados, especialmente os femininos. Essa história começou no século 19, com o surgimento de pequenas oficinas.
O município, localizado na região central do estado de São Paulo, tem um APL formado por cerca de 650 estabelecimentos, de acordo com o Sindicato da Indústria de Calçados de Jaú.
São fábricas, fornecedores de matéria-prima, instituições de ensino e entidades de apoio técnico e financeiro que fortalecem o setor que mais gera empregos na cidade. A capacidade de produção das 150 fábricas de Jaú é de cerca de 130 mil pares de calçados femininos por dia.
Em 2020, o polo foi responsável por 9,9% da produção estadual, apresentando uma queda de 1,1% em relação a 2019.
Parte da produção vai para o mercado externo. Entre 2016 e 2017, a receita com as exportações de calçados deu um salto de 76,2%, de US$ 534 mil para US$ 941 mil.
Estado de Santa Catarina
Em milhões de US$, Santa Catarina foi o 7º estado que mais exportou calçados em 2020, representando 2,1% da participação nacional.
São João Batista
O polo de São João Batista, que engloba as cidades de Canelinha, Major Gercino, Nova Trento e Tijucas, além da própria São João Batista, foi responsável por 76,5% da produção estadual.
Contudo, quando o assunto é empregabilidade, a nível nacional o município ficou em 17º lugar, com a criação de 3,6 mil postos de trabalho em 2020, de acordo com a Abicalçados.
Estado do Rio Grande do Sul
A segunda maior Unidade da Federação que produz calçados é o Rio Grande do Sul, com uma participação de 21,2%. O destaque fica por conta do polo do Vale do Rio dos Sinos.
Vale do Rio dos Sinos
O polo do Vale do Rio dos Sinos – Araricá, Campo Bom, Canoas, Dois Irmãos, Estância Velha, Esteio, Ivoti, Nova Hartz, Nova, Santa Rita, Novo Hamburgo, Portão, São Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul – concentrou 47,2% da produção gaúcha de calçados em 2020, aproximadamente 77 milhões de pares.
A cidade de Novo Hamburgo tem uma relevância considerável nesses números, já que o crescimento dela foi calcado na indústria de calçados, sendo considerada, durante muito tempo, a Capital Nacional do Calçado.
Com foco no couro, o setor é um dos grandes responsáveis pela economia na região. Em 2020, foi responsável por 6,0 mil empregos na indústria calçadista brasileira.
Novo Hamburgo sedia também duas das principais feiras do Brasil: Feira Internacional do Calçado (FENAC) e Feira Internacional de Máquinas para Curtumes, Couros, Componentes para Calçados e Acessórios (FIMEC), eventos que buscam discutir tendência e novos passos do mercado.
Paranhana/Encosta da Serra
O polo do Paranhana/Encosta da Serra – Igrejinha, Lindolfo Collor, Morro Reuter, Parobé, Picada Café, Presidente Lucena, Riozinho, Rolante, Santa Maria do Herval, Taquara e Três Coroas — deteve 21,7% da fabricação gaúcha em 2020 e trabalha com calçados femininos de alta qualidade, em sintonia com moda e design.
O mercado de calçados no Brasil
A indústria calçadista brasileira tem forte representatividade em 10 estados: Ceará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, São Paulo, Bahia, Paraná, Santa Catarina e Sergipe.
Juntos, todos eles foram responsáveis pela criação de mais 754 milhões de pares em 2020, assim como por empregar formalmente 247,4 mil trabalhadores, impulsionando a economia e gerando renda às famílias e desenvolvimento social.
Em 2019, foram contabilizadas 5,6 mil empresas fabricantes de calçados no Brasil, segundo o relatório da Abicalçados.
É uma indústria, porém, que perde em competitividade para a concorrência, formada principalmente pela China, Índia e Vietnã — os três principais países produtores de calçados em 2019, considerando milhões de pares. O Brasil figura em 4º lugar no ranking mundial.
O setor nacional sofreu os impactos da pandemia da Covid-19, resultando em uma queda de 18,4% na produção brasileira de calçados em 2020. A crise ocasionou o fechamento do comércio, a queda do faturamento e a redução da demanda.
No relatório, de acordo com com o o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, “se tivermos uma recuperação até o nível pré-pandemia, será em 2022”.
Isso deve acontecer graças à valorização da moeda brasileira, considerando as estimativas do Relatório Focus do Banco Central para a taxa de câmbio, que pode chegar a R$/US$ 5,25 em 2022.
Exportação
Assim como é o maior produtor mundial de calçados, a China ocupa a posição de maior exportador de calçados, em termos de dólares e pares, correspondendo, respectivamente, a 33,1% e 64,9% dos valores e volumes de calçados exportados mundialmente em 2019.
Ao passo que o Vietnã manteve-se como o segundo maior exportador mundial de calçados, com um crescimento de 12,9% e 11,2%, respectivamente, em dólares e pares. Enquanto que a Indonésia figura como o terceiro maior exportador do produto — foram 430 milhões de pares em 2019.
Quanto ao Brasil, ele está em 12º lugar, gerando uma receita de US$ 658,3 milhões em 2020.
As estatísticas mostram que 93,8 milhões de pares de calçados brasileiros foram exportados em 2020.
Contudo, o número apresenta uma queda de 32,3% em relação a 2019, sendo que “um dos possíveis motivos dessa divergência é a forte desvalorização cambial do Real ocorrida neste ano, o que pode ter levado a políticas de desconto no preço médio do calçado pelas empresas brasileiras, devido à maior rentabilidade em reais da exportação”, conforme o relatório.
- Leia também: Ranking das maiores empresas de calçados do Brasil
Para vencer a concorrência com os calçados chineses, que são imbatíveis no preço, o empresário brasileiro teve de investir em produtos de valor agregado, aliando qualidade e design. A sustentabilidade tem se tornado uma forte tendência também.
Por outro lado, a crise também ocasionou uma aceleração no processo de digitalização do mercado calçadista, que precisou se reinventar. Diversas ações digitais precisaram ser formuladas e devem seguir acontecendo nos próximos anos, em conjunto com os eventos físicos.
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